A leitura como festa

Artigo publicado na Zero Hora do dia 1º de novembro:

CELSO SISTO*

A leitura nunca deveria ser uma tarefa obrigatória. Pelo contrário. Deveria ser sempre uma tarefa encantatória! Ler para ficar encantado! Esse poderia ser um lema para a vida inteira!
Um leitor encantado é cheio de imaginação, pulsante de ideias, feliz com as descobertas que fez, com as vivências que "provou" através da leitura de um determinado texto. Um leitor encantado é vibrante, com vontade de dividir com os outros as maravilhas que conquistou e viveu por meio da leitura. Um leitor encantando consegue responder criativamente aos apelos que o mundo lhe faz e aos apelos que as próximas leituras lhe farão! Um leitor encantado, enfim, é um leitor que sentiu na pele as marcas que a boa leitura proporciona. Um leitor encantado é aberto e sedento de novas leituras! Um leitor com potencial para encantar outros leitores.
Ler é, sim, exercer uma das grandes habilidades do ser humano. É preciso lembrar que nem todo conhecimento é empírico, "concreto", fruto da experiência, da prática. Há uma gama de conhecimentos que a gente adquire pensando, imaginando, criando mentalmente. Essa faculdade precisa ser usada, treinada, exercitada. E nada melhor do que o exercício do ler.
Mas acontece que a leitura é um dilema na vida de muita gente! Aproximar-se do texto com medo, suando frio, achando que ler é atravessar uma pedreira, é a pior coisa! Ler, às vezes, pode ser "saltar sobre abismos sem rede de proteção". Mas esse tipo de leitura também pode ser desafiante e estimulante. Saltar abismos pode ser apenas não saber, por exemplo, aonde o texto vai nos levar; é confiar, de algum modo, que aquele texto tem algo a nos dizer, que nos impele a continuar. Saltar abismos pode ser uma experiência inesquecível!
De fato, um leitor precisa se sentir desafiado pelo texto que vai ler. É esse desafio que o faz prosseguir, o texto se instaurar, conduzir-nos até o final. Por isso, há leituras que quando terminam deixam saudade! Há livros que dão vontade de morar dentro deles, pra sempre! Ou até a gente ter experimentado todas aquelas emoções da maneira mais intensa possível! As emoções livrescas não se repetem (assim como algumas emoções na vida). E mesmo que a gente leia um livro diversas vezes, esse livro nunca vai ser o mesmo. A cada vez estaremos diante de uma obra diferente! Nós estaremos diferentes, o momento será outro.
No fim das contas, a gente lê para ser cada vez mais dono da nossa própria história!
*Escritor, contador de histórias e professor da Faculdade de Letras da PUCRS